Não deixem de ler o relato muito completo que o Pedro fez da prova!
"Já à algum tempo que andava com vontade de experimentar um trail, e o
sábado passado foi finalmente o grande dia!
Claro que a minha primeira experiência no trail não podia ser numa prova
qualquer... porque não, correr o meu primeiro trail à noite e na Serra da
Arrábida??? Nada melhor que o Trail Nocturno das Lebres do Sado, que faz esta
junção mágica...
Quem me falou nesta prova foi o Filipe (meu primo e colega nos Pernas de
Gafanhoto) e obviamente que eu não podia recusar... poucos dias depois, o João
Pedro (que já tinha feito a Meia Maratona de Setúbal comigo), perguntou-me se
havia alguma prova antes da Meia Maratona Rock'n'Roll para servir de treino...
e claro que o convidei logo, até porque ele mora mesmo ali ao lado. Por sua vez
o João Pedro, falou com um amigo, o João Pinto (que também correu connosco na
MM de Setúbal) e assim tínhamos completado o nosso grupo desta noite.
Encontrá-mo-nos por volta das 20h em Palmela e daí partimos logo para o
ponto de partida da prova.
Mal chegamos, notei logo que isto seria uma prova totalmente diferente do
que estou habituado... senti um ambiente muito mais informal e familiar.
Levantá-mos os dorsais e recebemos logo o nosso prémio de participação.
Voltamos para o carro e lá nos equipámos a preceito com os frontais e
restante equipamento...
Pouco tempo depois, os membros da organização (As Lebres do Sado) começaram
a chamar os atletas para uma pequena apresentação. E mais uma vez, o bom
ambiente reinava!!
Após a apresentação, fomos então encaminhados para o controlo, que não
demorou muito tempo.
Deu-se então o tiro de partida, e lá fomos nós por uma estrada fora
iluminada por tochas.
Poucos metros á frente, começou então a verdadeira aventura, e as novidades
para mim... conheci o meu primeiro single track!! E lá seguimos todos em fila,
com o pelotão a marcar um bom ritmo... que naquela altura até me pareceu um
pouco de mais para mim, dadas as condições (o terreno, noite...).
Este foi o único momento em que nos mantivemos os 4 juntos, após sairmos do
single track tivemos a primeira baixa... deixei de ver o Filipe.
Lá continuamos os 3 por entre caminhos mal iluminados pelos nossos
frontais.
Por volta dos 1300 metros, mais uma baixa, já não via o João Pedro...
entramos então num troço de alcatrão, que serviu para esticar um pouco a
passada.
Segui com o João Pinto, até por volta do km 3, onde o percurso começava a
subir (ainda em alcatrão), e ai o João ganhou um ritmo que eu não conseguir
acompanhar e lá fiquei sozinho...
Segui assim cerca de 1 km, volta e meia lá passava um atleta mais apressado...
ou ultrapassava eu alguém mais lento...
Por volta do km 4, voltamos à terra batida com uma ligeira descida, e foi
ai que comecei a ouvir alguém atrás de mim... era o João Pedro, estava de
volta!!
Tal como disse... era apenas uma ligeira descida, o pior vinha a seguir....
uma ENORME subida... "Boa!! É disso que eu quero!" pensei eu para
mim...
E realmente gostei, tal como gosto sempre, de fazer a subida, e como já não
ia sozinho e ia na conversa, nem se deu tanto pela inclinação.
Mas... como tudo o que sobe desce... tínhamos que descer tudo o que já
tínhamos subido e mais um pouquinho...
O terreno era instável e com muita gravilha... ouve muitas derrapagens e
ainda fui conhecer o chão uma vez, mas nada de grave.
Sensivelmente a meio da descido, por volta do km 6, encontrava-se o
abastecimento, com agua e bolachas para recuperar-mos energia.
Após restabelecidas as energias... voltamos então ao percurso, e este
voltava novamente aos single tracks. Como nos encontrávamos ainda a descer...
muito provavelmente estes trilhos devem ser por onde a agua corre quando chove,
o que faz com que o trilho esteja constantemente cheio de buracos enormes em
que se tornava muito complicado manter um bom ritmo.
Concluímos então esta enorme descida, perto do Bairro de São Paulo (penso
que é este o nome). Ai o terreno voltou a ser um misto de terra batida e
alcatrão. Foi assim durante uns 2 km.
Voltamos então aos trilhos... entretanto eu e o João Pedro, tínhamos ganho
a companhia de um Sr. já com alguma experiência no trail (o de laranja na foto
em cima). E como ele tinha um frontal bem melhor que o meu, fomos os dois
alternando, ora ia eu à frente, ora ia ele nas partes mais escuras...
Eu pensava sinceramente que o "pior" da prova já tinha passado,
com aquela subida enorme... mas não!! O pior encontrava-se bem á nossa frente!!
Bastava olhar para cima e víamos o carreirinho de luzes serra acima!! Acho que
nesse momento engoli em seco... e tive que dar um golo no powerade que tinha
comigo.
Começou então a nossa escalada, primeiro apenas com uma inclinação ligeira
que se aguentou bem... até que, num momento em que eu ia à frente, deixei de
ver caminho... o unica coisa que havia ali, era um buraco enorme para baixo no
meio da mata... perguntei ao pessoal que vinha atrás se não tinham visto outras
indicações do caminho atrás... e nada... mas não podia ser por ali!!! Ou podia?
Claro que sim!!! E que sensação fantástica, a de nos aventurarmos em sítios
assim, ainda para mais a meio da noite!!
Mas claro que esta descida no buraco era apenas uma ilusão... apenas algo
para complicar ainda mais a escalada que nos espera!!
Para sairmos dali, só havia um caminho e era impossível correr, tínhamos praticamente
que escalar!! Chegámos então a mais um beco... não havia passagem, apenas um
muro enorme que encurtava o caminho até não se puder passar mais, "será
que foi desta que nos perdemos??" Não... tínhamos que trepar o muro! Como
ia à frente, fui o primeiro do nosso grupo a trepar, e lá encontrei novamente
as fitas do outro lado do muro...
O percurso não melhorou muito, a escalada continuou por alguns metros...
Por volta dos 9700 metros havia uma bifurcação, e antes de chegarmos lá,
vimos um grupo de atletas que iam à nossa frente a voltar para trás, e a seguir
pelo trilho da direita... pensámos que estivessem perdidos, e a verdade é que
ao chegarmos lá, não encontramos fitas nenhumas, arriscamos então a seguir
atrás dos outros. E lá estavam as fitas, seguimos cerca de 400 metros até
encontrar-mos alcatrão novamente e uma seta á esquerda.
Poucos metros á frente, estavam membros da organização e avisam-nos que nós
tínhamos vindo pelo caminho errado, boa... mas o que é cerco é que estavam lá
as sinalizações todas... estava feito, agora só podíamos seguir em frente!
A partir daqui o percurso eram cerca de 3 km a descer em alcatrão apenas
com algumas subidas ligeiras, mas nada de grave... mas depois daquela subida
infernal já não tinha pernas... comecei a sentir cãibras... pensei várias vezes
em parar, mas cada vez que abrandava as dores eram maiores! Fui assim até ao
fim da descida, momento em que entramos no percurso inicial da prova, voltamos
aos trilhos... neste momento éramos só eu, o João Pedro e o outro senhor que
nos acompanhou desde o abastecimento.
Por incrível que pareça, as dores, como que por magia, desapareceram!
Senti-me com força novamente, mas havia um novo problema.... quando tínhamos
passado ali anteriormente, o grupo ainda ia unido, e havia bastante iluminação,
mas agora mesmo com o frontal do senhor que nos acompanhava, tornava-se
bastante difícil de ver o piso! Sinceramente depois de tudo o que já tínhamos
passado, eu já mal me lembrava daquele troço do percurso, e ainda por cima em
sentido contrário, pareceu-me bastante mais complicado do que na primeira
vez... o piso parecia-me ainda mais instável, e voltaram as derrapagens... o
João Pedro aos poucos foi começando a ficar para trás, mas tentei manter sempre
contacto visual com ele para nenhum de nós nos perdermos... de volta ao single
track, eu sabia que estava quase e era impossível alguém perder-se! Senti-me
com força e comecei a acelerar... a meta estava a vista, atrás de mim vinha o
tal senhor, acelerai mais um pouco, e fui o primeiro dos 3 a cortar a meta!!
Olho para trás, e não vejo o João Pedro... "ora bolas... perdeu-se!"
Pensei eu... até que do meio da mata, lá vejo uma luz, e lá vem ele!!
Terminá-mos!!!
O João pinto já se encontrava-se junto a uma mesa com agua, melancia e
uvas... e que bom que tudo estava! Devorei uns bons pedaços de melancia... bebi
uns 4 copos de agua... e agora sim, podíamos ir fazer os alongamentos. Lá
partilhamos as nossas aventuras, enquanto esperávamos pelo Filipe, mas começou
a levantar-se um vento, e começou a ficar desconfortável... mas a roupa seca
estava no carro do Filipe!! Fomos então para dentro de um pavilhão da
organização, onde havia caldo verde, bifanas, cerveja, e tudo mais... mais
um vez, tudo me parecia maravilhoso, foi um manjar dos deuses após aquela
prova!
O tempo passou e comecei a ficar preocupado com o Filipe, como ficou
sozinho logo no inicio, não fazia ideia do que se podia ter passado, mandei-lhe
uma sms a dizer onde estávamos. Poucos minutos depois, lá entrou ele pelo
pavilhão dentro a sorrir! Estava tudo bem! Horas antes, ele tinha dito que
queria aproveitar o tempo de prova permitido bem, 2h30, e não é que o fez?
Terminou com 2h29!! Lá se juntou a nós a comer, e o senhor que nos acompanhou
desde o abastecimento também, partilhou alguma da sua sabedoria com trail
runner o que é sempre bom, para nós novatos nestas andanças...
Esta prova entrou directamente para o primeiro lugar do meu top!! Adorei
tudo, desde a organização, ao percurso, como todos os atletas que em algum
momento correram comigo...
E para melhorar ainda mais, esta prova tinha uma vertente solidária, em que
parte do valor da inscrição revertia para a "Causa Solidária Mário
Piteira", para angariação de fundos para aquisição de uma cadeira de
competição de desporto adaptado.
Sem duvida, esta vai ser uma prova a repetir... e posso garantir-vos que o
bichinho do trail ficou cá dentro... e pode ser que dentro de pouco tempo
repita a experiência... :-)
A única coisa que tenho
a apontar, foi a má sinalização em algumas partes do percurso, mas que
felizmente, não nos fizeram perder assim muito."
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